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quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

DEPUTADO LUIZ COUTO CITA SANDRA BELÊ EM DISCURSO

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ


Sessão: 271.1.54.OHora: 09:30Fase: BC
Orador: LUIZ COUTOData: 05/10/2011




O SR. LUIZ COUTO (PT-PB. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, hoje eu quero falar do Brasil a partir das boas experiências, dos saberes e fazeres do povo do Sertão da Paraíba. Eu quero inverter a tradição das nossas falas, quase sempre do lugar das instituições do Estado, para registrar três experiências no âmbito da arte e da Educação, experiências das lutas do povo por cidadania.
Reporto-me primeiro ao Curso Pré Vestibular (CPV) da cidade de Serra Branca no Cariri da Paraíba. Fundado no ano de 1999, há 12 o CPV aglutina estudantes, professores e apoiadores no firme propósito de ajudar jovens e adultos a ingressarem nas universidades públicas da Paraíba. Láeles têm aulas todos os dias da semana, de domingo a domingo, inclusive nos feriados. Os professores e professoras, experimentados no ensino médio da cidade ou em cursinhos pré-vestibulares da cidade de Campina Grande são movidos mais pelo compromisso com a Educação e com a Cidadania do que pelas módicas remunerações que recebem. Sabem por experiência própria que não dápara esperar o avanço, lento avanço do ensino básico no Brasil para que essa geração tenha reais oportunidades de ingresso no ensino público de nível superior.
O Curso Pré Vestibular de Serra Branca é mantido pelos familiares dos estudantes, por serrabranquenses que mesmo não tendo filhos e filhas no cursinho ajudam no custeio das despesas, além das parcerias com igrejas cristãs que atuam na região.
Nesse período mais de 400 pessoas que passaram pela sala de aula do CPV entraram em cursos de graduação na UEPB, UFCG, UFPB e IFPB. Algumas inclusive já concluíram cursos de mestrado e doutorado.
Também no Cariri, lá da cidade de Zabelê, testemunhamos o talento de Sandra, que incorporou o nome da cidade a seu próprio nome - Sandra Belê. Com sua arte Sandra Belê resgata as mais caras expressões dos sertões nordestinos. Cantigas de Reisado. A voz do aboiador e seus sons em semitons. O som do carro de boi. O som da sanfona. Sandra Belê é cantora e atriz da cultura popular, que não faz concessões ao paradigma do consumismo da indústria da música. Não busca o sucesso fácil e volátil da cultura de massa.
Entre 2004 e 2005 Sandra Belê gravou o CD Nordeste Valente. Em 2006 participou em cenas e em cantos das gravações da mini-série apresentada pela TV Globo, a Pedra do Reino, obra escrita por Ariano Suassuna. Em 2008 participou do Projeto Sete Notas, do SESC Centro em Campina Grande. Em 2009, Sandra lançou o CD Se Incomode Não, onde canta o universo romântico dopovo nordestino. Entre 2010 e 2011 Sandra gravou o CD EncarnadoAzul, um trabalho de arqueologia sobre os antigos pastoris do interior do Brasil.
Sandra Belê é um talento que orgulha Zabelê e o Cariri da Paraíba, levando as feições e a alma dos caririzeiros e caririzeiras para os palcos do Brasil. Como caririzeiro também me orgulho de Sandra Belê.
No Seridó da Paraíba o bom exemplo vem de um trabalho de extensão do curso de História da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). A professora Auricélia Lopes Pereira, doutora coordenadora do curso, e os extensionistas Silvano Fidelis e Tuca Kessia desenvolvem o projeto Subjetividades, Adolescência e Ética, com jovens de ensino médio da escola de Santo Antônio do Seridó. Na verdade um exercício de filosofar, um exercício de vivenciar as idéias filosóficas para recriar o presente e o futuro num ambiente marcado pelas dificuldades econômicas, sociais e ambientais. A professora Auricélia Lopes e seus orientandos suscitam nos estudantes de ensino médio do Seridó a descoberta da filosofia para que cada um daqueles jovens tornem suas próprias vidas significativas.
Seridó encravado no semi-árido tem uma natureza que é por muitos considerada inóspita. Ali a tradição das sucessivas gerações é a migração para outras regiões da Paraíba e do Brasil, na busca por oportunidades de sobrevivência. Mas muitos ficam lá criando os filhos e filhas que muitas vezes, ainda na adolescência, deixam a terra natal em busca de trabalho, mas em prejuízo dos estudos.
Seridó. É neste território de dificuldades, mas de esperanças, que jovens estudantes do curso de História da UEPB e a professora se encontram semanalmente com jovens ainda adolescentes para estudar com profundidade, para pensar com intensidade, para tecer outra história e outro futuro.
Essas três experiências, de Serra Branca, de Zabelê e do Seridó são testemunhos de que as pessoas quando querem fazem a diferença.
Era o que tinha a dizer.

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